Curar ressentimentos (perdoar)

Muito se fala na necessidade de perdoar, mas o que significa isso exatamente ?

Nem mais nem menos do que lidar com a dor emocional. Ressentimentos, mágoas, conforme preferir chamar!

Quando ficamos emocionalmente magoados, a fonte dessa dor fica marcada, e no caso de ser uma pessoa ou – mais em concreto – a pessoa que partilha a vida connosco, ficamos numa situação emocional muito difícil de superar.

Difícil, porque essa dor é uma prisão. Por um lado pode levar-nos a fazer coisas que não queremos, por outro pode bloquear-nos e impedir um dia-a-dia normal, em paz.

Embora possamos ser alvo de más atitudes de outros, ressentimentos podem surgir ou não, dependendo das “defesas” emocionais que podem ser de nascença ou adquiridas. A maturidade bem como a experiência de vida fazem diferença. Depende de pessoa para pessoa. Podemos então divagar se a dor não terá origem dentro de nós mesmos ? eu penso que sim.

Essa maturidade é o que faz toda a diferença na defesa da dor emocional. Entender a situação, conhecer a pessoa, perceber a intenção, pode retirar o peso de um gesto, que para outra pessoa pode significar ficar magoada.

Perdoar não é uma decisão, e por isso é tão difícil de nos libertarmos de uma dor. Perdão é uma meta, é uma linha que passamos e em que percebemos que “já não dói”, “já não interessa”, “já passou”.

Se duas pessoas emocionalmente imaturas entram numa luta de palavras, a probabilidade de causarem mágoas mútuas é muito alta!

E se estamos a falar de uma dor, mesmo uma dor emocional, precisamos de uma cura! E como todos os processos de cura… há lágrimas e comprimidos. Lágrimas são recomendadas, comprimidos convém evitar.

Consegue reconhecer se tem algum ressentimento com o seu cônjuge? Caso tenha, convém tratar disso, pois os ressentimentos tiram a paz, bloqueiam a nossa vontade de nos dedicarmos ao outro. e é como um veneno lento que vai matando o Amor. Curar essas feridas da relação é da inteira responsabilidade de si próprio e não do outro.

Como aceleramos uma cura (isto é, acabar com um ressentimento) ?

O mais fácil é perceber a intenção de quem magoou, se conhecemos essa pessoa e sabemos/confiamos que não houve intenção de magoar, estamos no bom caminho. Podemos também aceitar que incompatibilidades de vida levam a decisões difíceis que podem magoar quem não se quer magoar e até de quem se gosta.

O tempo cura também. E aceitar que toda a gente (nós incluídos) tem defeitos. Procurar ajuda (amigos, psicólogo) pode também acelerar o perdão.

Os piores ressentimentos para curar são aqueles que nos fizeram com intenção. Palavras, gestos, ausência de palavras, ausência de gestos, dar espaço a mais, não dar espaço nenhum. Também pesado será a ausência de remorsos, a ausência de um pedido de desculpa. Percebendo que uma pessoa é tóxica e vai tentar magoar-nos mais vezes, tirar essa pessoa da nossa vida é a solução. É nesta situação que a palavra “perdoar” não é a adequada. “Perdoar” não se aplica. É apenas resolver um problema.

“Perdoar” só se aplica quando é importante manter a relação (seja de casal, amizade, pais/filhos, etc …). Quando decidimos tirar alguém da nossa vida, a dor transforma-se em força.

Escolher a nossa própria felicidade pode ser também uma fonte de mágoa para outra pessoa. Esta é uma situação delicada, e é um bom exemplo de que a maturidade emocional nos pode proteger. Não devemos ficar magoados, porque também não devemos pôr em causa a felicidade de ninguém. Cada um é responsável apenas pela sua.

Depois da cura, podemos olhar para trás, fazer uma introspeção e aprender mais alguma coisa sobre nós. Se vamos crescer ou não, só vamos saber se acontecer de novo e a dor aparecer de novo… ou não!

Não nos podemos esquecer do outro lado da história… e quando somos nós a magoar alguém ? Será que conseguimos perceber a dor que causamos ? A mágoa que nasceu ? Será que vamos achar que não dissemos nada de mal, e aquela reação é um exagero ?! Somos muito rápidos a ignorar as nossas próprias falhas, nós sabemos que as nossas intenções são as melhores. Mas, julgamos os gestos dos outros como se fossem de propósito. Num próximo artigo vou escrever sobre isto.

(foto de pixabay)